Com a proximidade de um novo conclave, o mundo católico volta seus olhos para o Colégio de Cardeais, onde se decide quem será o próximo Papa. Com um cenário eclesial em transformação, marcado por debates sobre reformas, desafios pastorais e tensões doutrinais, a escolha do próximo Pontífice será determinante para o futuro da Santa Sé.
Neste artigo, exploraremos os cardeais favoritos ao cargo, seus perfis, trajetórias e posicionamentos teológicos.
“Papabile”: Fortes Candidatos ao Papado
Este termo italiano se refere aos candidatos “papáveis” na eleição. O Conclave ocorre no próximo dia 07 de maio, onde 133 cardeais eleitores participarão deste momento na Capela Sistina. Veja agora os fortes candidatos ao cargo.
Luis tagle – Filipinas

Tagle, proclamado cardeal em 2012 pelo Bento XVI, é considerado o “Papa asiático” pelo seu alinhamento político com o antigo pontífice. Com ênfase na luta contra a pobreza e a favor da inclusão, ele se destaca pela sua grande habilidade de comunicação e seu carisma. O cardeal de 67 anos também é muito prestigiado entre os jovens e é apontado como um candidato forte pelo seu histórico de compromisso social. Entretanto, sua candidatura também passa por divergências.
Ele enfrenta oposição das alas mais conservadoras pela sua ascendência chinesa, já que o relacionamento da Igreja com o país é um assunto delicado. Analistas também apontaram problemas de administração durante sua gestão em uma instituição de caridade como um complicador para sua eleição.
Raymond Burke – Estados Unidos

Principal arquiconservador da disputa e um crítico ferrenho a Francisco, Burke é um notório defensor da ortodoxia católica. Afastado de seu cargo dentro do Vaticano pelo então Papa, é defensor da missa em latim, da moral sexual tradicional e e se mostrou muito descontente com as reformas progressistas de Francisco e sua postura diante de assuntos polêmicos como imigração desregulada e à concessão de comunhão para divorciados recasados.
Apesar de sua popularidade em comunidades tradicionalistas, é muito improvável Burke se eleito Papa justamente pela sua postura mais polarizado. Atualmente, o perfil do Colégio Cardinalício, majoritariamente formado por nomeações de Francisco, tendem a privilegiar candidatos com perfil pastoral, mais conciliador.
Matteo Zuppi – Itália

Arcebispo de Bolonha, e presidente da Conferência Episcopal Italiana, o cardeal Matteo Zuppi, de 69 anos, é um dos nomes mais fortes entre os progressistas. Ligado à Comunidade de Sant’Egidio, famosa por seu trabalho em mediação de paz e assistência aos pobres, Zuppi representa uma Igreja inclusiva, pastoral e em diálogo com o mundo moderno. Próximo do Papa Francisco, Zuppi ganhou notoriedade por sua atuação pastoral em periferias urbanas, por defender o diálogo ecumênico e por enfatizar a paz — Francisco o nomeou como enviado especial para negociações de paz na Ucrânia.
Sua liderança na Itália, tradicional berço de papas, pode pesar em seu favor, especialmente por simbolizar um catolicismo socialmente engajado, mas equilibrado.
Peter Erdo – Hungria

Outro candidato voltado para um posicionamento mais conservador é o cardeal húngaro de 72 anos, muito respeitado entre os cardeais europeus. Erdő é considerado um dos teólogos mais preparados da Europa. Com sólida formação acadêmica e reputação de equilíbrio, já foi cotado em conclaves anteriores, como o de 2013 que elegeu Francisco.
A ala mais conservadora vê Erdő como um nome de consenso, tanto por sua fidelidade à doutrina tradicional quanto por evitar confrontos públicos. Sua eleição poderia sinalizar um retorno a um papado mais discreto, acadêmico e voltado à unidade.
Willem Jacobus Eijk – Países Baixos

Cardeal e arcebispo de Utrecht, nos Países Baixos, Willem Jacobus Eijk é conhecido por sua firmeza doutrinária e postura intransigente diante de mudanças morais, especialmente em temas bioéticos e sexuais. Já se opôs abertamente, por exemplo, a benção para casais de mesmo sexo e algumas aberturas pastorais do Papa Francisco.
Em 2018, Eijk criticou publicamente o papa Francisco por sua abordagem ambígua sobre temas doutrinais, como o acesso à comunhão. Apesar de ter um perfil intelectual sólido, ele se comunica de forma mais reservada, o que pode limitar sua projeção global
Robert Sarah – Guiné

Natural da Guiné, o cardeal Robert Sarah, 79 anos, é uma figura simbólica para o catolicismo tradicional. Ex-prefeito da Congregação para o Culto Divino, Sarah defende a liturgia em latim, o silêncio, a penitência e uma Igreja contracultural.
É autor de livros influentes entre os fiéis conservadores e crítico das reformas pastorais de Francisco. Apesar da idade avançada e das poucas chances reais de ser eleito, Sarah representa o coração da ala tradicionalista do Colégio Cardinalício. Se eleito, seria o primeiro Papa africano desde o século V.
Jean-Marc Aveline – França

Descendente de imigrantes argelinos, Aveline é conhecido pela sua comunicação inter-religiosa, principalmente com o islã, e pela sua proximidade com imigrantes. Francisco o nomeou cardeal em 2022, sinalizando reconhecimento por sua abordagem pastoral, humanista e aberta. Representa uma Igreja que busca acolher as diferenças e enfrentar a secularização com escuta e presença.
O cardeal era o favorito de Francisco para sucedê-lo, por isso muitos o consideram perigoso pela sua proximidade com o antigo Papa.
Fridolin Ambongo Besungu – Congo

Ambongo é uma das vozes mais proeminentes e simpáticas do catolicismo africano. Combina sensibilidade social com fidelidade à doutrina, sendo ativo em questões como justiça, meio ambiente e paz. Jovem, articulado e bem visto por Francisco, pode surpreender como uma opção viável vinda do Sul Global.
O Papa não é apenas um líder religioso, mas também líder de Estado. Independente do eleito, o novo Papa estará em um cenário dividido entre tradição e renovação, por isso a necessidade de um líder forte mas com altas habilidades de diálogo.